O Brasil em animes

 Como o japonês vê o Brasil?

Provavelmente de forma não muito diferente dos americanos e europeus: praia, samba, favelas e o velho estereótipo de povo alegre, risonho e não muito confiável no que diz respeito a horários e compromissos. Entretanto, se o estereótipo é o mesmo, podemos dizer que pelo menos a forma de retratar tal estereótipo ficou um pouquinho mais acurada com o passar dos anos. Vamos ver alguns exemplos.

Um dos mais conhecidos e antigos animes em que há uma presença significativa do Brasil é Supercampeões / Captain Tsubasa, adaptação do manga que se iniciou em 1981. O Tsubasa era um menino japonês apaixonado por futebol que queria ser jogador profissional. No anime exibido pela extinta Rede Manchete, o jovem Tsubasa conseguia uma vaga na base do São Pa… errr, quero dizer, Blancos. Ali, ele progredia até o time titular para depois alçar voos mais altos – ou seja, os grandes times da Europa. Embora a produção do anime tenha conseguido retratar a cidade, o estádio e o CT do São Pa… err, Blancos de maneira razoavelmente fiel, houve alguns escorregões terríveis: a cidadezinha onde o personagem Pepe morava, por exemplo, mais parecia um povoado mexicano daqueles que aparecem em filmes americanos. Além disso, mostraram pessoas comendo pão de queijo com garfo e faca. Como prato principal!

supercampeoes

Tsubasa com o uniforme do São Pa… digo, Blancos.

Em Zatch Bell, anime da Toei de 2004, um dos últimos arcos se passa na selva amazônica. Se observar com atenção, a chegada dos heróis ao “país sul-americano” (nunca dizem o nome) é em uma cidade muito parecida com o Rio de Janeiro… só que com a Catedral da Sé de São Paulo no meio!

Já em 2008 temos o curioso Michiko To Hatchin, anime produzido pelo estúdio Manglobe. A história se passa em um país fictício que é claramente baseado no Brasil. Aqui já temos uma produção primorosa: favela, praia, calçadões, tudo caprichosamente desenhado. A trilha sonora foi composta por um brasileiro e uma das músicas de encerramento é em português. Vários personagens tem o primeiro nome japonês e o sobrenome ou alcunha em português: Michiko Malandro, Satoshi Batista, Shinsuke “Saci” Rodriguez. Se você ainda não viu, dê uma chance. Só a espetacular fuga de Michiko pela favela, saltando de laje em laje em sua moto já vale muito a pena.

michiko to hatchin

Michiko Malandro e a pequena Hatchin em sua possante moto.

Em 2014 estreia Majin Bone, adaptação de manga e card game produzida pelo estúdio Toei. A história trata da luta de quatro jovens que usam armaduras com poderes especiais (os “Bones”) para combater alienígenas que querem dominar/destruir a Terra. Entre os protagonistas está Antonio, ex-menino e artista de rua e capoeirista. Embora não seja um anime dos mais caprichados, incluí Majin Bone aqui por ser o mais recente e pela curiosidade de ter um brasileiro entre os protagonistas apesar da história se passar, pelo menos a maior parte, no Japão. É diferente de Michiko To Hatchin, que se passava no “Brasil” e onde a maioria dos personagens era de “brasileiros”.

Eu não poderia encerrar este post sem mencionar Haikyuu!!, outro anime que iniciou este ano como adaptação do manga de Haruichi Furudate da Shonen Jump. Embora não tenha personagens brasileiros ele utiliza uma citação do Bernardinho, técnico da nossa seleção de vôlei. É notável, já que isso aconteceu não por que o autor queria colocar algo de exótico ou diferente na história, mas porque realmente somos uma potência mundial no esporte. Furudate citou Bernardinho por ele ser o técnico de uma seleção várias vezes vitoriosa e admirada pelo mundo todo. Devo confessar que perceber isso me fez sentir uma pontinha de orgulho.

antonio

Character design de Antonio, um dos heróis de Majin Bone. Notem a roupa verde e as presilhas amarelas no cabelo…

Provavelmente ainda vai demorar para que a visão que os japoneses tem do Brasil mude de verdade. É necessário não apenas que eles procurem enxergar além do combo samba-carnaval-futebol, mas também que nós, brasileiros, mostremos ao mundo que somos mais do que isso.

Entretanto, podemos dizer que hoje, pelo menos, eles conseguem retratar o estereótipo de maneira menos equivocada. Pelo menos, não vão mais desenhar a gente comendo pão de queijo com garfo e faca.

58 respostas em “O Brasil em animes

  1. Eu li que, durante a produção de Tekkon Kinkreet, a equipe assistiu Cidade de Deus para ter como referencia.

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      • O mais legal deste filme é como eles fazem as “ligações” de fatos que acontecem durante o tempo. Assista prestando atenção nas histórias.

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  2. Os animes de futebol costumam fazer algum tipo de referência ao Brasil. Area no Kishi e Giant Killing, por exemplo, têm personagens relativamente importantes que são brasileiros

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  3. mudar por que? nós somos assim ora bolas, pelo menos a ”gente” quando vemos um gringo abrimos logo um sorriso e fazemos o possível pra ajudar se pudermos e não venha me dizer que não é, o brasileiro tem que começar a se aceitar, até

    pq não tem nada de errado com isso, não somos babacas como os franceses e nem preconceituosos como os americanos, somos taxados de felizes apesar dos pesares, o engraçado é que a maioria de vcs vê isso como algo ruim

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    • Não tem nada de errado, Ricardo. É que isso é apenas uma pequena parte do que nós, povo multirracial e pluricultural, somos. A idéia não é mudar o que somos, é que tenham uma visão mais completa do que somos. ^^

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      • A parte de sermos simpáticos ok. Mas somos mais que futebol e praia e acho que é esse o ponto. Se ficar só nessa de gente bronzeada, sorridente, de corpo escultural e jogando bola ou com praia ou floresta tropical de fundo nunca vão encarar a população como algo além de um antro de prostitutas e malandros, porque é exatamente assim que a maioria dos estrangeiros nos vê. :o

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    • E dizer que “não somos preconceituosos” e querer fechar os olhos para a realidade. Tenha certeza que boa parte dos vendedores não tratam da mesma forma uma pessoa de olho fechado falando chines ou espanhol e um de olho azul falando inglês.

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  4. O mangá de Soul Eater tbm faz uma citação ao Brasil, na luta no castelo de Baba Yaga que se localiza na Amazônia, Vol 12 xD

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  5. Tem aquela Insert Song também, do Wolf’s Rain, que é em português. Nome da música é Coração Selvagem, pela Joyce.

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  6. Não existe nenhum manga/anime que retrata melhor o Brasil que o Shachou Shima Kousaku. Como o próprio nome diz, o personagem principal enfim vira o presidente da Teco.L. Então ele vem ao Brasil a negócios no volume 12.

    É impressionante os detalhes que o mangá teve! A cada rua que eles mostravam eu ficava com aquela estranha sensação de “já ter passado por lá” hahaha. Foi nessa hora que senti de fato como os japoneses se sentem quando olham o tempo todo nos mangás/animes lugares padrões que eles passam. Teve direito a tudo: passeio em feira, comer na churrascaria, noite de amor no Hotel das cataratas entre Batista e Aya, passeio na praia, viagens (ele teve que viajar para vários estados do Brasil), decisões de negócios e patrocinio ao 10 da seleção… e até mesmo uma aula sobre a história do Brasil.

    Algumas imagens (É só clicar na img para tamanho maior):

    1 – Aqui a capa:

    2 – Eu ja passei por inumeras ruas assim, e você? :

    3 – Quem nunca andou em uma feira né:

    4 – Batista & Aya nas Cataratas do Iguaçu:

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      • Se não me engano, antes de virar cavaleiro de touro, Aldebaram tinha outro nome. Não sou fã de Cavaleiros (sei que é uma eresia para um otaku da velha guarda), mas pelo que sei, todo cavaleiro que vira um Cavaleiro de Touro, ganha o nome de “Aldebaram”. Eu só não sei qual era o nome de “nascença” dele.

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        • Segundo as referências mitológicas, o nome mais provável do Aldebaran seria Evandro. É um personagem de um escrito de Aristóteles conhecido pela anomia, mesmo atacado não reagia, mas era ferino em suas respostas, coisa que encaixaria o Aldebaran com certeza!

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  7. Se for contar referências, tenho uma fácil: Em um dos últimos capítulos de Love Hina (O mangá, não o anime), quando a Naru foge para o Norte, Keitarô ao descobrir o sumiço, está com uma camiseta de manga longa escrito “Club Brasil” (Com “S”, mesmo)

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  8. No anime de Haikyuu mostrou o Rio de Janeiro no meio de uma fala do professor, quando ele diz “em um país distante”… Não lembro em qual episódio. =/
    Hellsing também teve cena no Brasil, tinha até “Polícia” escrito nos uniformes dos polícias, e outros detalhes legais. Apesar que o Alucard veio pra cá pra matar nazistas haha

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    • Uma vez o pessoal do Fala Otaku comentou que aquelas fantasias de escola de samba pareciam coisas de anime. Nunca tinha pensado nisso, mas depois daquele comentário comecei a reparar e não é que mesmo? ^^

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  9. É realmente complicado esperar uma maior compreensão do Japoneses sobre o Brasil quando nós também temos compreensão errada deles. Tem muita gente q diz: Ah! Japonês é tudo igual blablabla. Ou então q japonês é tudo estranho e tem uma cultura meio doida. Eu vejo muita gente falando coisas do tipo.

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  10. Eu sei q n é anime, mas uma das homenagens mais legais sobre o brasil foi o Raimundo do desenho Duelo Xiaolim. E ele foi um personagem com uma grande importância e foi, dos 4 protagonistas, o q mais movimentou o roteiro e também é o mais carismáticos do 4 (e ainda virou o líder no final, PORR* ELE É FOD*!!). É uma pena q a continuação desse desenho tenha ficado SUPER infantil e praticamente ignorou os acontecimentos do desenho antigo e ainda mudou a cor do Dojo (sério, qual foi a necessidade dessa alteração?), eu queria muito uma continuação de verdade

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    • Nossa, eu gostava de Duelo Xiaolin! Realmente, o Raimundo era legal, teve um desenvolvimento de personagem que eu não esperava num desenho tipo cartoon.

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  11. Tem um death scythe em Soul Eater que é brasileiro mas como ele só falava “uga buga” não conseguiram convoca-lo.E cara não gostei de Michiko To Hatchin mais pelo enredo do que pela adaptação em si porque tirando as duas principais todo o resto dos personagens são uns escrotos, mas lembro que curtia pra caramba os sobrenomes.

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    • Pois é, fico imaginando por que a mudança… Será que acharam que ia dar problema por que o anime alcançaria um público maior?

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      • Não conheço nada de Gundam, só resolvi assistir este porque peguei no lançamento. Mas realmente seria legal uma franquia famosa assim dar atenção ao nosso país :P

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  12. Naquele anime de futebol ruim pra porra Hungry Hearts Wild Striker tem um personagem brasileiro ele se chama Rodrigo e naquele anime bishounen Meganebu tem um personagem que é meio brasileiro o nome dele é Antonio Tanaka( É um personagem muito engraçado inclusive! hahaha).

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    • Cara, a capacidade que os japoneses têm de criar nomes absurdos em inglês sempre me surpreende, kkkk XD

      Nossa, é mesmo, Meganebu tinha o Antonio! Eu gostava do anime, era totalmente sem pé nem cabeça mas era divertido ^___^

      Obrigada, Gabriela!

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  13. Matéria bacana, parabéns. E gostaria de acrescentar algo mais: No auge da J-League, foi produzido o animê “Kazu & Yasu”, sobre os irmãos que sonhavam jogar futebol. O Kazu ficou famoso no mundo todo. Foi o primeiro jogador japonês a jogar no Santos e depois até fez carreira na Europa. Nunca assisti esse título, mas me lembro de uma revista antiga (acho que era a Animedia) com uma foto do longa. Aparecia o Kazu tomando guaraná Antarctica num boteco. Até o copinho típico de bar eles desenharam com perfeição.

    E também vale citar a admiração dos japoneses pelo Ayrton Senna, que foi tema de alguns mangás, incluindo na Shonen Jump. Neles, a representação do Brasil é mais do que respeitosa.

    Abraços!

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    • Esses mangás não conhecia, vou dar uma olhada =)
      A admiração pelo Senna é grande mesmo, lembro que quando ele corria na mesma equipe do Prost eu via muitas fotos deles em revistas japonesas. Sempre davam um jeito de destacar mais o Senna, tipo, colocavam uma foto enorme dele na frente e uma minúscula do Prost lá no background. XD
      Obrigada pelo comentário, Alexandre!

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  14. michiko to hatchin achei muito bom! meu top 10
    meio nonsense meio wtf, animao muitoo boaaa
    capricharão muito e merece muito credito
    pena que nao fez tanto sucesso como merecia

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  15. Michiko To Hatchin tem até a trilha sonora brasileira. A música Desencanto do Kassin é linda demais! Ela toca no melhor episódio do anime, o momento é propicio e se encaixa perfeitamente.

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  16. Michiko to Hatchin tem um episódio que homenageia o Lenine :)
    que aliás é um dos episódios mais emocionantes do anime.

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  17. “Provavelmente de forma não muito diferente dos americanos e europeus”. Como assim os estados unidos sozinho representa a América? A América é muito grande para ser resumida de apenas a estados unidos. Brasil é uma país americano, Chile é uma país americano, Argentina é uma país americano e entre outros são todos países Americanos. O continente americano conta com mais de 30 países. Os Estadunidenses (Ianques, se assim preferir) não são os únicos no segundo maior continente do mundo.

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