Tom Sawyer é um manga shoujo de volume único, com uma história repleta de peripécias e aventuras que só a infância é capaz de ter.
Haru via-se sem rumo na vida até aquele verão, quando voltou ao interior para o funeral de sua mãe e conheceu Taro, o menino mais travesso da cidade. Juntos, os dois viverão aventuras que a farão redescobrir a inocência da infância, numa singela e tocante história.
A protagonista, Haru, está acostumada a ser uma pária na cidadezinha em que cresceu. Também estava sozinha em Tóquio, para onde havia se mudado, com a morte da mãe, então, ela tem a certeza de que está sozinha no mundo. Amargurada e triste com o rumo da própria vida, é o enérgico e criativo Taro que a faz viver inúmeras aventuras e a recobrar a vontade de seguir em frente, encontrando a própria força interior.
Taro ao inspirar Haru, também aprende várias coisas com a jovem. De certa forma, ele era tão pária na cidadezinha quanto ela. Taro passa as férias na casa da tia, uma mulher rígida, mas que ama o sobrinho, e se esforça para se ajustar aquele lugar. Ele é pálido, então fica no sol até ficar vermelho, fala o sotaque local de um jeito tão carregado que é exagerado para os outros. Nisso ele é o oposto de Haru, que já havia desistido da possibilidade de se “encaixar” na cidade.
Tom Sawyer foi inspirado em As Aventuras de Tom Sawyer, As Viagens de Tom Sawyer e Tom Sawyer, Detective, de Mark Twain. O clássico da literatura mundial – Mark Twain é considerado o pai da literatura americana moderna – é igualmente famoso no Japão, onde já ganhou adaptação para anime, por exemplo.
A intenção do mangaka Shin Takahashi, como ele explica no extra, era justamente criar sua própria versão de um Tom Sawyer, como um modo de honrar o clássico. As aventuras das personagens Haru e Taro, e de seus amigos, são inspiradas nas que o autor viveu na infância. Por tanto, o roteiro do manga é cheio de um humor infantil e com o modo de pensar de uma criança, mesmo diante da trama de um assassinato – o qual é mais um subenredo do que a trama de fato.
Tom Sawyer, nesse ponto, é uma obra em que o gostar do leitor depende de sua subjetividade e também, da capacidade de reconhecer elementos da própria infância e sentir nostalgia ao ler o manga. O enredo é desconexo, ainda que não seja episódico, segue as aventuras em uma história linear, mas não exatamente conectada – já que a conexão da trama está justamente na já mencionada subtrama de um assassinato.
Esse estilo de narrativa me lembra o livro nacional O Menino no Espelho, de Fernando Sabino, considerado por alguns críticos como o Tom Sawyer brasileiro – da mesma maneira que o manga retrata um Tom Sawyer japonês. Por tanto, vai de cada leitor como se sente com esse estilo. Eu, por exemplo, prefiro outros estilos, mais o aprecio pelo seu viés mais literário.
O traço do manga deixa a desejar em sua simplicidade, embora seja competente pela maior parte da história. As imagens coloridas são lindas, o que cria uma expectativa de qualidade que nem sempre a arte consegue cumprir. Ademais, alguns exageros em expressões das personagens fazem com o que manga perca a seriedade de algumas cenas, contudo, encaixa-se com o teor mais infantil de algumas cenas.
Shin Takahashi é autor de outros mangas, como o shounen Kimi no Kakera. Ele atribui, nos extras, a autoria de Tom Sawyer a um trabalho em equipe, por mais que ele seja o mangaka creditado – ao final do volume, é possível ver a extensa lista com todos que trabalharam no manga.
Tom Sawyer foi originalmente publicado na revista shoujo Melody, da editora Hakusensha. A editora JBC é a responsável pela bela edição brasileira, com páginas coloridas, bom acabamento gráfico e uma boa revisão – a única decisão que eu achei incômoda foi com relação ao sotaque das personagens, já que escolheram por colocar na segunda pessoa e usar o “tu” quando poderiam ter adaptados os verbos com a concordância verbal adequada, em minha opinião.
O manga, uma aventura com ares de drama e com quase 400 páginas, ainda pode ser encontrado em bancas de revista pelo preço de R$23.90. Além dessa review, você pode ler algumas páginas do próprio manga no link disponibilizado pela editora JBC de forma legal clicando AQUI.
Eu tenho uma curiosidade em ler esse mangá, mas por alguma razão fico com o pé atras, me parece simplista demais. Eu não sabia sobre a trama de assassinato, mas vendo que não é algo que chama muito a atenção, ainda não sei se vou comprar! De qualquer forma, ótima resenha! ^^
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